A ARQUITETURA NÃO PODE SER IMPOSTA

Existem duas formas de planejar os espaços: Uma adapta o projeto às pessoas e a outra espera adaptar as pessoas ao projeto, de maneira imposta.

O que muda de uma abordagem para a outra é o foco, que fica nos usuários na primeira e em conceitos meramente ideológicos na segunda. Isso não quer dizer que ao pensar nas pessoas você não pode ter um conceito de projeto. Significa que esse conceito pode ser aplicado de maneira arbitrária, agregando soluções frias e exclusivamente técnicas, ou então de maneira mais humana, levando em consideração fatores subjetivos e necessidades dos usuários.

Ao montar um prato de comida para uma criança acostumada com comida industrializada, você pode achar melhor que ela coma mais legumes, por exemplo, e isso em si pode ser uma boa ideia. Mas não adianta só colocar o brócolis e a cenoura crua dentro do prato. Ao pensar na criança e no seu lado psicológico, você entende que ela precisa de estímulos e está acostumada com outro tipo de comida, então poderia se interessar mais se os legumes estivessem cozidos, amassados ou picados e misturados com um molho, de repente. Esse prato teria muito mais chance de ser comido, e até com gosto, pois se encaixaria com ela.

arquitetura imposta - project cartoon      Imagem: Project Cartoon

Na arquitetura é possível ter esse mesmo cuidado, mas isso requer uma sensibilidade que infelizmente não vemos com muita frequência. O resultado é que os espaços não funcionam como se imaginou, pois supostamente as pessoas não seguem as regras que o projeto tentava impor. Mas que tipo de planejamento é esse que simplesmente determina como se deve agir, como se fosse uma ditadura dos espaços? Essa é uma abordagem vazia, que vem apenas da mente racional sem um toque de compreensão real.

É por isso que existem ideologias tão bonitas na teoria mas que quando aplicadas acabam não funcionando. E quando não funcionam, não adianta brigar com a realidade, culpar e xingar a humanidade. É mais construtivo tentar elaborar soluções mais consistentes, que venham de uma percepção mais aprofundada e de uma visão mais ampla. Os espaços e intervenções urbanas não deveriam nunca ser pensados por pessoas pouco sensíveis, que estejam reproduzindo soluções de maneira mecânica ou visando mais uma ideia com a qual se identifiquem do que as consequências do que estão fazendo.

Para que a arquitetura represente e até agregue mudanças, ela não deve ser usada como agente de poder, e sim de maneira mais compassiva e compreensiva, para conduzir ao invés de manipular. Os resultados são impressionantemente diferentes.

Texto: Arquiteta Fernanda DG
Imagem de capa: G1

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