CIDADE SEM PLANEJAMENTO É COMO CASA SEM PROJETO

Imaginem que em uma casa morem 5 pessoas: Uma família composta pelo pai, a mãe, dois filhos pequenos e a avó. Só que essa casa tem um problema, ela tem os quartos todos no andar de cima, e a avó não consegue mais subir escadas.

Para resolver essa situação e dar um cantinho para a vovó, o casal resolve usar um pedaço da sala, fazendo uma espécie de cubículo fechado com cortinas. Em um primeiro momento, ela ficou animada, aliviada por não ter que subir mais até o segundo andar, e todos acharam que a casa ficaria mais bem adaptada a ela, deixando todos felizes. Mas não foi bem isso que aconteceu. A sala continuou sendo usada normalmente, e o barulho da televisão começou a incomodar a avó, que gostava de dormir mais cedo do que a criançada. Além disso, o casal passou a não poder mais receber visitas, pois não tinha mais espaço para isso, e começaram a ficar mais isolados no quarto. E por estar em um local bem no meio da passagem, as cortinas ficavam sujas com facilidade, pois todos encostavam ali sem querer ao circular da sala para a cozinha ou quando chegavam em casa. Ou seja, o que era para ser uma solução criou outros problemas, e na verdade não resolveu a situação da avó.

Esse é apenas um exemplo aleatório das inúmeras possibilidades de problemas que podem surgir quando não é feito um bom planejamento dos espaços, com ações tomadas com base em apenas um objetivo muito específico, sem pensar no todo. (Ver também: “A Importância da Visão do Todo na Arquitetura e no Urbanismo“)

Os espaços possuem usos e dinâmicas variados, e cada situação deve ser analisada com cuidado para prever o impacto de cada intervenção da maneira mais ampla possível. Esse é o grande desafio dos projetos de arquitetura, que têm, portanto, um papel bem mais significativo do que simplesmente deixar os ambientes ou construções bonitos. E mesmo com os projetos, muitas falhas acontecem, dependendo da visão e conhecimento de cada profissional e também da complexidade do espaço em questão.

No caso das cidades, essa complexidade é muito grande, especialmente em grandes metrópoles. Todos os fatores de eficiência, segurança e conforto que devem ser considerados no projeto de arquitetura fazem também toda a diferença no projeto urbanístico, porém com uma quantidade de pessoas e de usos muito mais variada.

Se não existir esse planejamento amplo, as soluções acabam prejudicando a todos, assim como o quarto da vovó no meio da sala, fechado com cortinas de um jeito muito improvisado. Ela não ficou mais feliz por estar ali, e sim mais incomodada, no final das contas. E todo o funcionamento da casa foi também prejudicado. Outras soluções poderiam ter sido pensadas, como um outro tipo de acesso ao andar superior ou então a criação de uma área para a avó em outro local, e com divisórias de outro tipo. Para que tudo se encaixasse melhor.

Portanto, assim como o crescimento desordenado das cidades faz com que existam inúmeros problemas, o planejamento mal feito também. Pode parecer que vai melhorar alguma coisa, mas essa é uma visão muito imediatista e limitada, que não se encaixa com questões que envolvem fatores muito subjetivos e dinâmicos como o comportamento humano. As consequências começam a aparecer, e as soluções acabam não funcionando, e tudo poderia ser previsto, se existisse a preocupação real e uma abordagem mais ampla e imparcial. É uma pena que isso às vezes pareça ser pedir demais.

Texto: Arquiteta Fernanda DG
Imagem de capa: Perkins + Will Canada

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