O PAPEL DA SENSIBILIDADE NA ARQUITETURA – E NA VIDA

Ao falar de sensibilidade é possível vir à mente uma pessoa chorando ou descontrolada, abalada por qualquer motivo pequeno. Isso seria fraqueza ou drama. Sensibilidade mesmo é uma abertura que gera maior percepção, maior intuição, maior visão de si mesmo e dos outros. É um jeito mais alerta e integrado de viver a vida. Ou de fazer arquitetura.

Manter-se receptivo e atento às necessidades de cada pessoa ou de cada situação é uma característica preciosa na hora de projetar os espaços, assim como em qualquer profissão ou circunstância da vida. Um médico que atende um paciente, por exemplo, por mais cheio de conhecimentos que ele possa ser, nunca vai ser um bom médico se não prestar atenção às particularidades de cada paciente. As alergias, os vícios de comportamento, as reações a cada remédio, o histórico de cada pessoa. É extremamente limitado e simplista decretar certos e errados, normais e anormais quando se trata de seres vivos, dinâmicos e complexos, cheios de jeitos diferentes e imprevisíveis.

O arquiteto estrela

Da mesma forma, um arquiteto que projeta com base nas regras e teorias que conhece, mesmo que sejam muitas, e não percebe direito as pessoas que vão usar o espaço, pode até ser um ótimo artista plástico. Mas não um bom arquiteto. Isso porque suas obras são se tornam eficientes de verdade, não se encaixam com quem vai efetivamente usar aquela construção ou ambiente. É o chamado “arquiteto estrela”, que, do alto do pedestal do seu ego cheio de conhecimentos técnicos e conceituais, perde contato com a parte viva e dinâmica da realidade. Perde a chance de olhar para o outro, ver quem está ali e do que ele realmente precisa. E com isso perde a chance de usar todo esse conhecimento para ajudar de verdade. Então acaba sendo um conhecimento não muito útil.

Fama x qualidade

Pode até acontecer de um arquiteto assim ganhar muitos prêmios, ter seu nome reconhecido. Mas isso não significa que seus projetos sejam realmente melhores. Fama e qualidade são dois elementos que podem ou não estar associados, é quase uma coincidência aleatória. Mais uma vez, é o que acontece em qualquer profissão.

Se a sensibilidade estiver presente, o arquiteto detecta as reais necessidades de cada pessoa e cada situação, e só a partir daí seleciona quais informações e soluções podem servir naquele caso. Ao invés de chegar com soluções prontas e impor a todo custo para qualquer cliente, que, na visão arrogante do arquiteto-estrela, é um mero espectador passivo da sua obra de arte.

O usuário de um espaço, seja um ambiente, uma casa, uma cidade, é o verdadeiro protagonista do projeto. É a ele que aquele espaço deve servir. Portanto é ele que deve ser visto e respeitado, com o máximo de abertura e sensibilidade, que é o que permite que essa percepção aconteça de fato. Um bom arquiteto, um arquiteto sensível, não vai nunca se incomodar com isso. Pelo contrário, vai ficar feliz por ter realizado um bom trabalho, um trabalho útil e eficiente de verdade.

Intelecto + sensibilidade = Inteligência de verdade

Essa é, então, a verdadeira inteligência: Uma mistura do intelecto com a sensibilidade. Sem essa mistura, qualquer solução fica fria e parcial, podendo até fazer sucesso, chamar atenção e alimentar ainda mais o ego já inflado e possivelmente inseguro do seu digníssimo criador. Mas sem nunca ter a verdadeira eficiência, qualidade e harmonia que torna tudo na vida – seja profissional ou pessoal – simplesmente muito melhor.

Ajude o site

Veja também:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *